quinta-feira, dezembro 07, 2006

reticencia

Não sei por onde começar a escrever. Apesar de racionalmente quase tudo neste mundo ser obrigatoriamente um processo com inicio meio e fim, pelo menos a um nível macroscópico... Sendo apenas ai que residem as nossas emoções, nas coisas sensíveis; com a excepção talvez da comunicação visual, ou da fala.. feita á custa de sinais de luz e som.

Não encontro uma linha de raciocino que elucide o que sinto agora.

Fiquei em pânico. O meu pai está no hospital. Sei porque ele está lá, os motivos recentes e os motivos antigos que justificam que lá esteja. Sabia que este dia ia chegar e sempre pensei coisas diferentes sobre como este dia iria ser. Mas hoje, agora... estas coisas pressentem-se.... Quase sempre se sabe quando principia o inicio do fim.

Nunca consegui lidar com isto. É o paradoxo do ser que ele foi em relação ao ser que eu fui, do que ele se tornou e do que eu sou agora. É uma certa sensação de dividas saldadas que me joga contra os factos como se estivesse a ser esmagada por uma pedra de toneladas.

São planos irrecuperáveis, oportunidades perdidas, tempo jogado ao lixo de um lado e de outro- Inconsciência, inconstância (in)vivência.

É saber que estas coisas não importam racionalmente. Muito pouco do que sentimos pelos outros faz alguma diferença.

Desde que nascemos sabemos que as pessoas não sao eternas. Sabemo-lo porque o primeiro pensamento que tem uma criança que sabe que todas as pessoas vivas tem pais, é faltarem pelo menos os pais dos pais, dos pais da criança. Mas nao temos a noção de que isso aconteça no universo a que agora fomos apresentados. É como uma historia muito antiga, um mito -algo muito longe e de há muito tempo.

Quando finalmente acontece é bizarro! Vive-se na negação tempos e tempos. Ainda não consegui aceitar que a minha avó morreu... na pascoa... Ás vezes é como se ao pensa-la ainda pudesse senti-la. Como se ela estivesse ainda aqui - como se de uma forma estranha pudesse comunicar com ela. Não nos modos usuais de palavras mas numa linguagem especifica de emoções que racionalmente, sei serem apenas reconstruções de memorias.

Tenho um nó no estômago. O barulho da ventoinha do portátil está a dar comigo em louca. É este silencio físico: parece amplificar o pessimismo.

Vou ligar a televisão. Sei que tenho de pensar isto, mas ao menos que seja na companhia de outras vozes. A sic noticias é boa para momentos criticos. Raramente há gargalhadas. É o único som que não poderia ouvir agora. Ás vezes um universo, quase desprovido de emoções é o lugar mais afável para se estar.

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