quinta-feira, junho 04, 2009

Não ao ECPDESP

Há muito que este blog está parado.

Creio que deva iniciar este post por dizer que detesto politica. Ainda não sou mas quero ser engenheira. Há um aspecto na engenharia que me fascina particularmente: A linha ténue onde esta se cruza com a arte, por procurar incessantemente soluções pragmáticas e eficientes impossíveis de alcansar sem criatividade. A politica por outro lado, procura soluções aprazíveis.


aprazível

Que apraz; agradável.

A palavra per si é ingrata em ilustrar o sentido da anterior premissa uma vez que esconde outra: subjectividade. Este é o cerne. Aprazível para quem?


A politica é a arte da laranja espanhola. Ali está ela, lado a lado com a Algarvia, reluzente e pomposa. O freguês compra a olho mas ao chegar a casa, a casca esconde um fruto deslavado e sem sabor.


Parece que cada vez mais se segue por um caminho de “vê de longe” e compra a impulso. O comentário é para o critério de curriculo a peso que se quer impor pelo ECPDESP.


Espanta-me que seja assunto para escapar à atenção dos alunos. (do ISEL eramos dois na manifestação hoje).


Silenciar o descontentamento é dizer sim ao desprestigio da instituição que nos certifica, é dizer sim à percariedade no trabalho das PESSOAS que nos ensinam, é deixar lesar o nosso futuro!


Não é muito difícil de demonstrar as consequencias práticas:

Prof = t_aulas + t_investigação + t_formação


o estatuto impõe que:

t_investigação + t_formação aumente! Vamos chamar a esse aumento alfa

Prof = t_aulas + (t_investigação + t_formação + alfa)


Esta equação NÃO tem significado no conjunto dos Reais a menos que alfa seja um imaginário puro!

Se Prof é o mesmo t_aulas tem de diminuir e diminuirá tanto quanto a relevância de alfa, que pelos critérios apresentados é virtualmente absoluta. quod erat demonstrandum


Algebra elementar....

3 comentários :

Duarte Nunes disse...

Infelizmente, no que diz respeito a concursos (para contratações ou promoções), o doutoramento desempenha um papel decisivo, mesmo quando sabemos que ele não confere ao docente qualquer especial aptidão pedagógica ou técnica. Deste ponto de vista a lei faz algum sentido (ainda que pouco), levando a que os concursos públicos sejam equânimes e assentes na competência do indivíduo enquanto professor. Um idealista até diria que no fim o ISEL ficaria com docentes bem melhores. (É claro que nas últimas reuniões do científico tenta-se com que as provas sejam documentais e fáceis de aldrabar, mas isso é um reflexo tipicamente português e um tanto ou quanto fora do tópico) Assim, o debate foca sobretudo o período de tempo que é dado aos docentes para tirarem o doutoramento antes de se apresentarem em concurso (ou seja, realizarem a proverbial transição), actualmente de 6 anos (que atenuam bastante o tal factor alfa) mas que na primeira versão da lei era apenas de 3 anos. Não tendo havido uma manifestação nessa altura, quando o assunto era mais crítico, e tendo em conta que as negociações ainda não cessaram, estranha-se a ocorrência de uma a escassos dias de eleições. Tresanda a manobra política e isso enxota umas tantas pessoas que também não gostam muito de política :P

Gux disse...

Os pontos que foca são interessantes. Confesso-me afastada da evolução dos "confrontos", pelo que a versão dos 3 anos me era desconhecida. É um ponto atenuante. Porém (poderei ter compreendido mal), o que me ficou foi que: findo o doutoramento será o docente obrigado a concorrer com outros pelo lugar que até então detinha, sem garantias de ser colocado. O raciocínio do alfa era nesse sentido sendo que nessa situação, o peso seria pela ponderado em função da extensão do currículo (não só o titulo mas a quantidade de artigos, que o docente em conjunto com outros que também estão a tirar o doutoramento, mais os que já tiraram e por DESventura não ficaram colocados, também escreveram no decurso desse tempo). É claro que em teoria isso traria "melhores" professores ao ISEL, mas essas coisas complicadas da pedagogia vs competência académica (seja lá o que isso for) nunca foram lineares.

O que pretendia focar é que estão a obrigar as pessoas a escolher entre "o esforço para a pedagogia" e o "esforço para o currículo".

É claro que não são actividades obrigatoriamente mutuamente exclusivas, mas diz-me a intuição que o serão tendencialmente.

Os professores também são pessoas, pais, maridos. Teem rendas para pagar, egos para alimentar, estabilidade a garantir.. e tudo isto é legitimo. Ignorar isso
parece-me de certa forma... utópico. (Não me parece acaso grande parte das grandes empresas, falarem em possibilidade de progredir na carreira dentro da empresa).


ahh a bela esperteza saloia portuguesa... o famoso "desenrascate" . É um pouco feio, mas é outro ponto semi exotérico. Não é todos os dias que se demonstra a conjectura de Poincaré e fora desse âmbito, ao nível do comum dos mortais... como é que se avalia a "qualidade"?


Enfim. Certamente que terá melhor conhecimento da situação do que eu. Razão pela qual agradeço o comentário, que aclarou alguns pontos que estavam meio nublados para mim.

Quanto à véspera das eleições... pode ter sido golpismo e se foi, parece-me que foi bem pensado. Não me parece imoral tentar fazer-se ouvir, quando se tem maior probabilidade de ser ouvido. A mim chocar-me-ia mais a inercia rancorosa que é nossa tradição.

Acredito que a vontade activa trás sempre bons resultados a longo prazo. Como agitar um frasco cheio de objectos de tamanhos diferentes. Por mais que estejam desalinhados, quanto mais se agitar, melhor "arrumados" eles ficam. Com algum cuidado na forma de agitar... mais rapidamente se arrumarão.. também é uma arte. =)

Duarte disse...

Xi.. não me trates por você, que não sou docente :P Estou é perto de alguns, o que me ajuda a ter uma perspectiva mais informada.

O currículo não é mutuamente exclusivo com a pedagogia: actualmente são muitos os docentes que ao fim de algum tempo de leccionação (o princípio é que custa: há que aprofundar o estudo das matérias e preparar material) enveredam pelo doutoramento ou então por um maior contacto com a indústria, através de projectos ou formações. Para estes casos há o título de "especialista", que parece requerer 10 anos de experiência, embora os critérios de apreciação ainda não estejam bem definidos. De qualquer forma, não é em meia-dúzia de anos que se consegue trabalho para sustentar esse título, sendo que muita gente é mesmo obrigada a seguir pelo doutoramento mesmo que não seja o que melhor lhes assenta. Mas a desvantagem é mesmo a precariedade que isto vem introduzir, embora seja coerente com a política deste governo em relação à educação, que vê os docentes não como pessoas mas como recursos materiais.

Pelo nosso lado, de alunos, podíamos ficar a ganhar se os concursos fossem provas públicas (leccionar uma aula perante um júri). Nesse cenário, as provas muito dificilmente seriam perdidas para docentes externos, que não conhecem nem experimentaram a estrutura curricular de cada cadeira. Todavia, parece que as provas vão ser mesmo documentais e aí entra ao barulho os artigos já escritos e muito rapidamente se deturpa o sentido de qualidade (ou seja, o júri tem uma balança e ganha aquele que tiver mais papel escrito, mesmo que ao nível do Semáforo Robot), para não dizer que se está a analisar uma faceta de investigação e não de pedagogia (capacidade de exposição e domínio do tema). A cultura vigente é a de que o docente deve ser principalmente um investigador, que de vez em quando dá umas "aulas".. a mim parece-me que essa relação está invertida, ainda para mais numa escola de engenharia.

Quanto à vontade activa, não me parece trazer grandes resultados quando lhe falta direcção e ponderação. É uma questão de perspectiva :P A mim pareceu-me que a manif foi orientada para a caça ao voto e não propriamente para expressão democrática!